sexta-feira, 6 de maio de 2011



Educação a Distância
Elias de Oliveira Motta


CONCEITUAÇÃO E PRINCÍPIOS
Podemos conceiturar a educação a distância como sendo a forma de educação que se baseia na crença no Homem e em suas potencialidades, como sujeito ativo de sua própria aprendizagem. Parte, esta modalidade de ensino, do princípio de que o ser humano, independentemente de escolas ou de professores, pode se autodesenvolver, o que é mais do que comprovado pelo imenso número de autodidatas que tantos benefícios já proporcionaram à sociedade.

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
A característica principal da educação a distância é, pois, basear-se no estudo ativo, independente e construtivista, que pode dispensar preleções, professores e locais específicos para aulas, ao mesmo tempo em que possibilita aos educandos a escolha dos horários, a duração e os locais de estudo. Outra característica, decorrente dessa primeira, é a utilização de materiais didáticos especiais de auto-instrução para a veiculação dos cursos. Desta forma, portanto, a educação a distância pode não só reduzir a exigência de freqüência do aluno na escola, como até mesmo dispensá-lo de presença.

POTENCIAL INIMAGINÁVEL DOS NOVOS ACELERADORES PEDAGÓGICOS
Com a evolução dos meios de comunicação de massa, especialmente dos equipamentos e aparelhos eletrônicos, com a disseminação dos computadores de uso pessoal, dos kits multimídia e dos CD-roms e com as supervias de informação de fibra óptica, as chamadas infohighways, a educação a distância adquiriu um potencial ainda inimaginável. A chamada multimídia, com a interatividade e com a realidade virtual que está criando um mundo novo, poderá, em pouco tempo, revolucionar os processos, métodos e técnicas de ensino e de avaliação, que o sonhador e revolucionário Marshall KICLUHAN, na década de 1960, com toda a sua extraordinária visão prospectiva, apenas começou a vislumbrar.
Darcy RIBEIRO, um entusiasta da educação a distância, ressaltava que "os educadores de todo o mundo passaram a contar, nos últimos anos, com aceleradores pedagógicos de eficácia antes impensável. Falo do instrumental audiovisual, televisivo e informático que, em conjunto, configura uma revolução tecnológica. Maior que a representada pela tipografia de Gutemberg e, posteriormente, pela produção industrial de livros acessíveis. Se estas deram os livros à mão cheia que pedia o poeta, a nova oferta nos dá a mesma e até melhor quantidade de saber da forma escrita e ilustrada, falada e sonorizada, visualizada, filmada, televisionada e computadorizada. Tudo isso individualizado para o aproveitamento de cada aluno".

UMA REVOLUÇÃO CULTURAL
Darcy falava com propriedade, pois uma revolução na escrita também está ocorrendo. Quando muitos pensavam que ela seria relegada a um segundo plano, o mundo eletrônico, que o autor William GIBSON chamou de cyberspace (ciberespaço), antes dominado secretamente apenas por técnicos e militares, foi invadido por milhões de pessoas das mais diferentes partes do mundo. Hoje, elas se comunicam, através da Internet, por ícones, signos e sons, inimagináveis há uma década e, o que é mais incrível, também por palavras escritas, levando-as a uma propagação que só é comparável à da época de Gutemberg (surgimento da imprensa). É a revolução cultural da "aldeia global", ligando em rede milhões de computadores e de pessoas, que ninguém sabe até onde pode ir.

NOVAS POSSIBILIDADES COM O MUNDO VIRTUAL
Não se trata apenas de uma mera renovação tecnológica. É uma mudança muito mais profunda, que envolve novas técnicas, mas também novos métodos, novos objetivos, novos conteúdos e um mundo novo, realmente virtual, que possibilitará:
1) atender à crescente demanda em todos os níveis de ensino, sem necessidade de se ampliar o número de salas de aula, de instalações, de professores e de funcionários o que, além de significar redução de custos, poderá, definitivamente, proporcionar a democratização do ensino básico;
2) suprir o problema da baixa qualificação dos professores, especialmente nas Regiões Norte e Nordeste, para as quais deve ser dada prioridade pelos programas governamentais
3) melhorar a qualidade do ensino nas escolas presenciais, com a utilização, nas aulas presenciais, de programas de educação a distância;
4) oferecer o mesmo nível de qualidade para todas as regiões do País, respeitando e valorizando características das culturas regionais;
5) otimizar os recursos disponíveis nos diversos sistemas de educação;
6) aumentar a motivação dos alunos para sua própria aprendizagem;
7) implantar, em ritmo muito mais rápido, novos métodos e técnicas de ensino;
8) desenvolver uma educação de qualidade muito superior à vigente nas escolas presenciais;
9) criar escolas virtuais;
10) libertar o estudante das paredes das escolas, facilitando o ensino e a aprendizagem no lugar e no tempo mais adequados ao aluno;
11) transformar os prédios escolares em centros de estudos e de pesquisas e em verdadeiros clubes para práticas esportivas e encontros sociais, principalmente festivos, com uma integração maior com a comunidade;
12) possibilitar ao aluno o desenvolvimento de sua capacidade para avaliar o seu próprio trabalho escolar; o desafio de verificar o seu autodesenvolvimento educativo e de se autocorrigir aumenta o prazer de aprender;
13) implantar, efetivamente, a educação permanente, com a transformação e a abertura do ensino superior, tanto de graduação quanto de pós-graduação;
14) modificar as relações entre professores e alunos, com a utilização de encontros e aulas virtuais, totalmente flexíveis, reduzindo, assim, a necessidade de encontros diários, com horário inflexível e em sala de aula, como ocorre hoje. Apesar de apresentar inegáveis qualidades, o modelo tradicional de ensino em salas de aula, com grandes turmas e muitas aulas expositivas, raros trabalhos individuais e alguns trabalhos em grupo, acaba gerando desgastes nas relações entre alunos e professores, com danosas repercussões para a aprendizagem. Eliminar as reuniões físicas forçadas, muitas vezes indesejáveis e contraprodutivas, entre alunos e professores em sala de aula, substituindo-as pela flexibilidade de encontros (físicos ou virtuais) desejáveis e programados pelas partes diretamente interessadas na evolução de seus processos de ensino-aprendizagem, será uma revolução na educação, que acabará por valorizar, efetivamente, o proveitoso e periódico encontro direto entre professores e alunos;
15) criar as condições para a implantação de projetos experimentais do que já está sendo denominado hiperaprendizagem, isto é, de processos educativos que utilizam os mais modernos recursos da multimídia e que, sem as tradicionais estruturas e hierarquias das escolas e das salas-de-aula, facilitam ao educando aprender e ensinar ao mesmo tempo, comunicando-se com o mundo (principalmente com o que há de melhor nele) e determinando, no seu próprio ritmo, a direção de sua aprendizagem e de seu desenvolvimento pessoal e profissional.
É realmente maravilhoso o novo caminho que a educação começa a percorrer. É algo incrível e extraordinário. Qualquer pessoa poderá, sem sair de sua casa, visitar os melhores museus e laboratórios do mundo e assistir a aulas teóricas e práticas, bem como teleconferências e videoconferências, nas mais diferentes partes do mundo, mediante comunicação instantânea e a qualquer hora do dia ou da noite.

MUDANÇA DE PARADIGMAS
Na realidade, está na hora de se mudarem paradigmas, de se aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem e de se repensar a educação, diante, principalmente, dos avanços da informática.
Para tal, é importante não se confundir educação a distância - que é realizada com abertura e regimes especiais - com o simples uso de computadores e de alguns recursos de multimídia em sala-de-aula, o que seria apenas uma modernização do ensino tradicional e formal.

TRATAMENTO DIFERENCIADO PARA A EAD
Visando a incentivar um mais rápido desenvolvimento da educação a distância no País, a nova LDB se preocupou em estabelecer-lhe, no § 4° do art. 80, um tratamento diferenciado, incluindo:
1) - transmissão em canais comerciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens com custos reduzidos;
2) - concessão de canais com finalidades exclusivamente educativas;
3) - tempo mínimo para a divulgação de programas educativos nos canais comerciais deverá ser reservado pelos concessionários, sem anus para o Poder Público.
Na realidade, se o Poder Público quiser um desenvolvimento mais rápido da educação a distância, além destes incentivos, terá, em primeiro lugar, de investir muito na área e, em segundo lugar, de ampliar os programas de financiamento ou criar outros, com condições especiais, para que a livre iniciativa faça, também, efetivos investimentos. Aliás, constata-se que, apesar de o Brasil ter programas de créditos especiais e com juros subsidiados especialmente para os setores primário e secundário da economia, com razoável montante de recursos, só recentemente voltou a liberar empréstimos dirigidos à área educacional mantida pela iniciativa privada, para aplicação direta em investimentos. O volume de recursos, no entanto, é irrisório diante das necessidades.

PROFESSORES DO SÉCULO XXI: EXEMPLOS VIVOS
Com efeito, ou o professor usa os instrumentos de educação a distância como um recurso extraordinário, objetivando a ampliação de sua própria visão do mundo e a de seus alunos, estimulando a aprendizagem e interferindo para o desenvolvimento do processo de reflexão de cada um, tornando-os pessoas cada vez mais curiosas e capazes de questionar os ensinamentos e a própria realidade, evitando, assim, que sejam simples espectadores passivos, classificados e alienados, ou não estará exercitando seu senso crítico nem repensando a educação e deixará de ser exemplo vivo para seus alunos, isto é, perderá sua utilidade na nova sociedade.
Para se continuar sendo professor, hoje em dia, e muito mais para sê-lo no amanhã, além de dominar a nova realidade escolar e pedagógica facilitada pela LDB e proporcionada pelos meios de educação a distância, será imprescindível estar treinado para conhecer melhor a si mesmo e aos alunos. Será necessário que o professor conheça bem os sistemas representativos dos alunos, para que o ensino possa se desenvolver com respeito mútuo e voltado para a construção de mentalidades de sucesso, sintonizadas com os processos de integração da humanidade, de mudanças, globais na economia, de busca de uma sociedade democrática e de concretização dos direitos humanos.


A nova LDB: uma lei de esperança / Organizado por Candido Alberto Gomes... Brasília: Universa - UCB, 1998.




A realidade da EAD no Brasil






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